Paulo Rosa

Epistemologicamente exigente

Paulo Rosa
Society for Psychotherapy Research (SPR), Sociedade Científica Sigmund Freud
[email protected]

A prefeita Paula Mascarenhas coordena, há mais de seis anos, um projeto de alta complexidade, visando alcançar medidas que atenuam a violência e, em simultâneo, fomentam a paz, o bem-viver.

Não tratar problemas complexos por meio de simplificações é bom rumo para alcançar ações eficazes. Velhos chineses já o decretaram. Não se vê com frequência tal cuidado em políticas públicas verde-amarelas. Há bem pouco ficamos indignados ao ver que o mandatário pacóvio propunha facilitar armas à população como medida antiviolência. Não há qualquer estudo que sequer sugira o abstruso. O resultado foi o desastre, como se constata pela análise de observatórios locais. Das mãos inábeis de alguns tipos "armados", suas armas podem parar em posse de facções criminosas. Destino corriqueiro.

Pois a epistemologia, espécie de ciência das ciências, proporciona, ao examinarmos determinado tema, que tenhamos claro as diferenças entre aspectos teóricos e empíricos, ou experienciais, dispondo, então, de evidências científicas para embasar ações aplicáveis à população. Política baseada em evidências, requerem os pós-modernos. E que cada ação ou projeto seja avaliado, passo a passo, quanto à eficácia. Algo não funciona, troca.

"Crimes letais intencionais tiveram uma redução de 81% entre 2017 e 2022 [...] roubos a pedestres caíram 68%, indo de três mil ocorrências por ano para cerca de mil registros anuais [...] roubos ao transporte coletivo passando de 199 para apenas 34 ocorrências no período", informou recentemente a prefeita, acrescentando que tais benefícios decorrem de ações integradas "das instituições de segurança pública e dos órgãos de fiscalização".

O que aqui enfatizo é a utilização nestes estudos primordiais sobre violência em Pelotas de uma epistemologia que contempla a complexidade do fenômeno. As motivações humanas para a agressão, sua distribuição geográfica e temporal, as associações com a vulnerabilidade social, a marginalização, os métodos de tratamento e de prevenção já aplicados, seus resultados. Um conjunto monumental de dados e horas de análise, para, então, delinear estratégias com base científica, incluídas aí avaliações permanentes.

O poeta filosófico e dramaturgo alemão Bertold Brecht, 1898-1956, recomendava desconfiar do que parece trivial, singelo, e examinar a fundo o que parece habitual. A prefeita Mascarenhas, com inspiração brechtiana, muniu-se de modelos hipercomplexos (apud André Green) para gerenciar a equipe na investigação e na abordagem à violência. O resultado positivo, sempre provisório, aí está, reconhecido no País e no exterior. O desafio a seguir, refere a alcaide, é manter os resultados, atualizá-los, ampliá-los. Nesta expansão necessária, a gênese da violência chega ao ambiente da infância, sendo esta um marcador de destinos.

Governar é complexo, se não impossível. Truísmo.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Conjuntura Internacional

Próximo

O autista é a "vítima perfeita" para o bullying

Deixe seu comentário